Conheça meu livro que conta a história de Ourém do Pará:

http://www.overmundo.com.br/banco/oureana-de-alem-mar-ourem-terra-de-moura

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

ESCOLAS DE FUTEBOL INVERTIDAS

ESCOLAS DE FUTEBOL INVERTIDAS-Arlindo Matos(19-12-11)

O esporte mais popular no Brasil é o “esporte bretão”, ou simplesmente futebol(isso todo mundo sabe por aqui)... O que precisamos entender e isso vale para qualquer diagnóstico futebolístico, é que este esporte ganhou taticamente várias maneiras de se praticar dentro das mesmas regras estabelecidas pela International Board no mundo afora, e por isso é comum os noticiários esportivos falarem da escola européia, americana, africana e até asiática com suas respectivas peculiaridades. Muitos treinadores de futebol viraram celebridades em seus domínios e até fora dele por vários fatores que lhes permitem o emprego de táticas aliadas a parte atlética e psicológica de seus pupilos, traduzindo ou especulando-se que o resultado vitorioso de uma equipe provém de um comando técnico que reúne melhor a execução harmônica desses tais fatores. Eventualmente pode até não funcionar e um trabalho teoricamente vitorioso pode cair diante de um trabalho plenamente amadorístico, mas isto seria apenas um acidente. Medir forças em competições é o que fazem os clubes de futebol em suas temporadas e as mudanças ou ratificações regulares dos campeões vão formando o perfil de determinadas escolas praticada em suas respectivas áreas de atuação. O futebol europeu sempre tido como duro de cintura, sacou que o sulamericano com bastante cintura e improviso poderia ser copiado, mesmo que por um preço astronômico, como um frankenstein, ajustando aqui e ali e aos poucos os importados foram dando nova cara àquele outrora futebol sisudo. Inglaterra à parte, a Europa tem outra fotografia tática na Itália, França, Portugal, Alemanha e principalmente no rico futebol Espanhol. Claramente o futebol sul-americano contagiou positivamente o velho continente, em contra-partida fomos, isto é fato no Brasil, contagiado pelo robótico futebol tradicional da monarquia européia. Tudo o que a geração Pelé construiu até o Flamengo de Zico e o “overlapping” da teoria de Cláudio Coutinho foi-se esvaindo com a metodologia parreiriana personalizada na interminável “era Dunga”, que vinha de Lazzaroni, e conseqüentemente obteve a aderência de quase todos os treinadores de ponta do Brasil, inclusive do atual comandante da Seleção, Mano Menezes, que a exemplo de seu antecessor, o próprio Dunga, adoram povoar suas onzenas com os tais cabeças-de-área, pra mim cabeças-de-bagre, enfeando nosso outrora bonito futebol. Bebeto e Romário ajudaram a ratificar essa escola, quando quase sozinhos, ganharam a copa de 1994, decidida nos pênaltys, parecendo que aquela fórmula com Dunga levantando o troféu, era a mais eficiente. Ainda bem que Rivaldo e Ronaldo nos devolveram em parte alguma coisa do futebol arte, na Copa de 2002, mas a humilhação por qual passou o mitológico Santos, agora de Neymar e Paulo Henrique Ganso nos deu o diagnóstico do quanto regredimos taticamente e o quanto evoluiu a escola Coordenada por um tal Johan Cruijff. Dunga(quanta responsabilidade) deverá arcar com sua imagem, a responsabilidade pelo futebol feio que implantaram no Brasil. A marca “Dunga” ou “era Dunga” precisa ser extirpada para não mais ser repassada para outras gerações. A “era Dunga” que poderia ser “era retranca”, “era Parreira”, “era Amaral”, “era Julio Baptista” e uma porção seguidores dessa escola que acabou com pontas, laterais, centro-avantes e o craque “10”... e o Santos ainda é o melhor do Brasil por conta da dupla moicana/come-quieto. Imaginem os times de Roth, Cuca, Leão, Mano e etc... saudades de Telê e o então aquiescente Zagallo de 1970, que aceitou povoar a seleção do tri com uma porção de “camisa 10” dos diversos clubes brasileiros, como: Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé e Rivelino e de quebra, um Piazza e Clodoaldo, diminuindo os zagueiros e liberando Carlos Alberto pela lateral direita. Será que nos dias de hoje e talvez mais atletas do que naquela época da “lei de Gerson”, que podia ser também “lei de Sócrates” anos mais tarde, o desenho tático de nosso futebol é o implantado pelo Super-Barça? Na minha modesta opinião, Cruijff e Guardiola, puseram num liquidificador as seleções brasileiras de 1958, 1962, 1970 e 1982, aperfeiçoaram com uma boa pitada da holandesa de 1974 e obtiveram esse magnífico BARCELONA que vimos no último dia 18/12/2011, diretamente do Japão. O abalo foi tão grande, que na transmissão da TV Globo, numa intervenção de seu comentarista Caio Ribeiro, ele claramente sugeriu ao narrador Cleber Machado, que “beliscando”(batendo mesmo) era a única maneira do Santos parar os catalães... nitidamente o miolo de Caio fervera naquele momento, e seus neurônios estavam desordenados como o time santista e brasileiro. Nesse momento me senti lesado, pois como patriota tive a sensação que roubaram ou entregaram nosso futebol para a Europa e em contra-partida, vi no alvinegro praiano a síntese do que os homens das pranchetas transformaram o futebol canarinho, salvo algumas individualidades: mediocridade!

domingo, 25 de setembro de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A MODERNAGEM DE MESTRE CARDOSO

As várias facetas de José Ribamar Cardoso, o “Mestre Cardoso”, amo do boi “Ouro Fino”, do município de Ourém, Estado do Pará, estão sendo agora diagnosticadas como modernas. O moderno, tido como da moda, aqui, na verdade é um brasileiro, nascido em Parnaíba-Pi, negro, de pouca instrução escolar, que aos 78 anos, ainda resolve seus negócios montando cavalo, amarrando literalmente seu animal nas muretas de repartições públicas ou não, fazendo até hoje viagens montadas, num raio de cinqüenta quilômetros sem muito se queixar ou titubear para decidir suas ações.

E onde está o moderno? Onde está sua vanguarda tão propalada? Ora, está na sua cabeça, está na sua alma, está na sua essência. Cardoso não bebe e nunca bebeu álcool ou até refrigerantes, mas carrega um aparelho celular e sabe utilizar o controle remoto de sua antena parabólica para ver na televisão os acontecimentos do mundo, prática que já vem desde os tempos áureos do rádio, outro companheiro dileto, afinal ele é “antenado” mesmo.

Um misto de vaqueiro com lavrador, Cardoso verseja ou “enversa” compulsivamente como um cronista que precisa entregar seu texto antes de fechar a redação. Suas composições em toadas “ocupam” temas do cotidiano mundial e podem falar da sereia encantada como também da morte de Ozama Bin Laden. O modernismo desse mestre também se debruça em pesquisas sobre o passado como também o advento da internet e suas utilidades. Cetra vez encerrou uma toada assim:

VOU FAZER UM INTERVALO

TODOS QUEIRAM DESCULPAR

EU CANTEI ESTA TOADA

PORQUE OUVI CONVERSAR

OUVIDO É PARA OUVIR

BOCA É PARA FALAR

O QUE ME CONTAM DE DIA

DE NOITE EU VOU ENVERSAR”

E outra:

Eu cantei essa toada

Aqui para o pessoal

Porque eu tenho memória

E tenho meu ideal

Compositei em toada

Conforme passa o jornal”.

No primeiro verso(As origens de Ourém) ele demonstra que pesquisou a história de Ourém nas conversas de rua e as traduziu para contar algo que havia acontecido há quase três séculos; no outro verso(Não sou norte-americano) ele faz questão de dizer que assistiu tudo no noticiário da TV.

Mestre Cardoso também é curador e recebe em sua casa, pessoas que vem a sua procura para “rezar” coisas até inusitadas, como o bebê doente, a espinha enganchada na garganta, e até missões de curar o gado com porções ou até para localizar aquela rês desgarrada, que se “amoitou”. Cardoso se orgulha em dizer que quando não tem o animal para rezar de corpo presente, o faz somente pelo rastro deixado no solo, ou na direção apontada pelo dono.

O “Lavrador de Toadas”(nome do filme que conta sua vida) domina seu batalhão com uma voz potente de nordestino, pregando sempre a preservação da natureza em meio as toadas desse folguedo, e sempre inovando alguma coisa sem descaracterizar o tradicional.

Aquele matuto em potencial surpreende a todos quando abordado na rua, ou numa entrevista de TV ou rádio ao vivo, ou mesmo se apresentando em teatros e outros espaços públicos com sua desenvoltura. Quando lhe escasseia o vocabulário, cria palavras com engenhosidade e dá sempre vazão a sua comunicação que consegue atingir desde as crianças até seus contemporâneos.

Quando fico observando o velho Cardoso e sua destreza como saber viajar de carro, cavalo ou barco, sem embaraço algum dos anciões, passo a imaginá-lo também desprovido na sua infância e juventude se saindo muito bem nas adversidades da vida miserável. Tenho a impressão que se um dia, em viagem de avião, que pousado em mata fechada, Cardoso, sem rádio, GPS, estetoscópio, ou metralhadora, seria o líder da tripulação para alcançar a saída, afinal ele o moderno que se busca ser, harmonizando o atual ao primitivo.

Acho que foi essa sacada que fez o músico e pesquisador musical Fábio Cavalcante captar, para emprestar de mestre Cardoso sua visão de mundo e sublinhar no CD “Do meio do Século XX para o século XXI” o tema modernoso de José Ribamar Cardoso, um verdadeiro Zé nesse rio-mar caudaloso das rimas e facetas, agora todo eletrônico, sem instrumentos de percussão para vaticinar: “Mataram Saddam Hussein e a guerra continua...”

“Meu filho! O rio Guamá, desmataram as cabeceiras, não tem mais as cachoeiras, e quem faz isso é o homem...”

ARLINDO MATOS – 09/06/2011

terça-feira, 17 de maio de 2011

RIOS DO MUNDO ( Encerramento de Oficina de Tambores)

Sábado(21/05/2011) em Ourém: Allan Carvalho, Cincinato e Ronaldo Silva e os mestres de bumbás de Ourém, encerram a oficina de fabricação de tambores, ministrada pelo grande Zet. Os mestres de Ourém, Cardoso, Faustino e Tuíte, além de Expedito, Sales e João Ceguinho, também estarão lá. Não perca! Na praça do fogo, ao lado da igreja matriz. Realização: Fundação Cultural de Artes e Esportes "Mundico & Manôla" - Funcartemm.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Copiado do Blog PROSEANDO COM TU http://desassossegar.blogspot.com/

erça-feira, 1 de dezembro de 2009

FUNCARTEMM inaugura o "NAMARRA"

O município de Ourém (nordeste paraense), distante cerca de 180 quilômetro de Belém, é um lugar muito acolhedor, tendo o Rio Guamá um dos cartões postais que encanta e favorece toda a tranquilidade e beleza da cidade; Ourém é famosa pelos festivais de música, já tradicional nos meses de julho (Festival da Canção Ouremense). A música e arte sempre foram muito presentes da vida dos ouremenses, a resistência da cultura popular predominantemente pelos bois bumbás, uma riqueza que precisamos sempre respeitar e manter viva.

A pesar de não haver incentivo algum por parte do município para as manifestações tradicionais de Ourém, Arlindo Matos atraves da FUNCARTEMM (Fund. Cult. de Artes e Esportes Mundico e Manôla) que luta e dedica parte de sua vida pela cultura, arte e esporte de sua cidade. Foi com seus pais (Raimundo e Manoela) que Arlindo aprendeu a valorizar as manifestações e tradições populares. Com respeito e sabedoria cativou e se apaixonou pela arte das brincadeiras de rodas; não é a toa que o bumbá TARJA PRETA hoje consegue unir todos os brincantes de bois de Ourém através da FUNCARTEMM, colorindo as ruas por onde passam, tocando os tambores e cantando toadas para os brinquedos fazerem a festa.
Os mestres de bois de Ourém são um espetáculo a parte, através de suas músicas que tratam dentre tantas questões a consciência ambiental em suas letras, dão um brilho muito especial na brincadeira, acompanhada dos bichos que compõe a comédia do boi bumbá.

A pesar de tantas riquezas, a cultura popular de Ourém vive num verdadeiro descaso, porém, graças ao apoio de entidades como a FUNCARTEMM que no dia 21 de novembro inaugurou o barracão "Namarra", um novo espaço de cultura e lazer que a entidade certamente ali promoverá muitas rodas de bois, espetáculos e apresentações; a festa de inauguração foi muito bonita animada pelos grupos musicais Quaderna (Allan Carvalho) e Carimbó de Bolso (Félix Facon e cia), além é claro da grande roda de bois puxada por João Ceguinho do boi Tarja Preta, Mestre Faustino do boi Pai do Campo, Mestre Tuíte do boi Geringonça e Mestre Cardoso do Boi Ouro Fino acompanhados pelos seus batadores e cantadores (batalhão) o Namarra foi abençoado pela alegria e o carinho de todos os brincantes. A festa ganhou noite a dentro com o som do Quaderna, Carimbó de Bolso e a participação mais do que especial de João Matos, que cantou belíssimas canções, onde todos os convidados puderam prestigiar esse novo espaço dedicado a arte e a cultura Ouremense.




Quero parabenizar o parceiro Arlindo Matos que mais uma vez, com um grande esforço conseguiu realizar mais um sonho e que com o apoio de todos os seus amigos conseguirá fazer muito mais pela sua gente. Um abraço grande aos músicos do Carimbó de bolso e Allan Carvalho do Quaderna que fizeram da noite do dia21 uma grande festa.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

ANEDOTAS GUAMAUARAS

O QUE CAI NÃO PRESTA

Joaquim “Arigó”, um pequeno comerciante de Ourém, recebeu um cliente que queria comprar um isqueiro. Seu Joaquim mostrou uma cartela de isqueiros de fabricação duvidosa, ocasião em que o freguês exclamou: “Seu Joaquim! Esse isqueiro não pode cair. Se cair não presta mais”. Então seu Joaquim retruca: “ vendo isqueiro pra acender fogão, cigarro vela e etc..., cabe a você não deixá-lo cair. Faça o seguinte: suba no alto daquela casa e caia lá de cima pra ver se você ainda presta?!?!”

MOTO SELADA, CARRO IMPORTADO

Seu Joaquim também disse que tem um carro importado e uma moto selada. Perguntado onde estavam esses veículos ele disse: “Não ando na minha mobylette sem cela e graças a Deus meu fusca está com suas duas portas...”

FRANGO POR CAFÉ

Augusto do Hilário tem uma lanchonete no terminal rodoviário de Ourém, especializada em atender clientes que estão em trânsito, ou que estão aguardando suas conduções lá. Diariamente ele inicia sua jornada as quatro horas da madrugada, antes do primeiro ônibus que vai a Belém. Madrugada dessas, teve uma intensa venda e já no amanhecer do dia, um carro-gaiola que carrega frango vivo encosta na rodoviário, e seu condutor desce e se dirigindo para o balcão da lanchonete, pede: “Um café, por favor!” Augusto responde: “Não temos. Acabou”. O cara chateado, começa a esculhambar: “Não acredito! Uma lanchonete de rodoviária, seis e meia da manhã não tem café. Só em Ourém mesmo. Uma vergonha”. E Augusto olhando para o carro de frangos, diz então pro rapaz: “Ei cara! Me vende um frango aí?” A resposta: “não tem mais.” E Augusto do Hilário complementa: “Quer dizer que teu frango pode acabar e meu café, não? Vai te catar, cara...”

sábado, 16 de abril de 2011

CONTOS DE OURÉM




O MILAGRE DO DIVINO

Contam os mais antigos que a coroa Divino Espírito Santo, quando a festa era forte na freguesia no século XIX, saía de canoa em caravana rio acima e rio abaixo para esmolar o mais longe possível. Teria a caravana de Ourém encontrado uma caravana de Cametá, na localidade ribeirinha do baixo Guamá denominada na época Arioré. Após saudações, cantaram ladainhas em latim e para celebrar o encontro idealizaram fazer momentaneamente uma troca de coroas nas embarcações. No momento da passagem, a coroa de Ourém, toda em ouro e prata, cai e afunda nas águas. A tristeza abateu a todos. Tiveram então a idéia de tocar caixas e cantando unidas as duas tripulações, e após cerca de trinta minutos, a coroa boiou e voltou à caravana de Ourém para alegria de todos.

AS TRÊS ÁRVORES DO CEMITÉRIO

Em 10/07/1912, na rua hoje denominada coronel Souza em local próximo onde está a loja “Ourém Modas”, o turco Abrahão Daniz, que era deficiente físico, foi trucidado a golpes de machado, punhal e navalha pelos indivíduos de nomes Januário, Pedro e Manoel. Seu corpo fora encontrado graças aos alardes de seu cão fiel e os assassinos esconderam suas vestes ensangüentadas no fundo do rio Guamá. A polícia prendeu os assassinos e os processou conforme a manda lei. No túmulo do turco no cemitério de Ourém, nasceram três árvores delgadas de pequeno porte. Uma delas morreu quando morreu o primeiro assassino. Da mesma forma morreu a segunda, quando morreu o segundo algoz e até os anos 1970 a terceira árvore resistia, acreditando-se que o terceiro ainda vivia em lugar incerto, possivelmente em São Miguel do Guamá. Nos anos 1980 deu-se falta da terceira árvore, presumindo-se também a morte do terceiro matador.

ATENTADO AO GOVERNADOR BARATA

Corriam os anos 1950, e o governador Manoel Joaquim de Magalhães Barata, um governador peregrino que circulava nas ruas de Ourém em seu automóvel oficial, saudando o povo. Teria sido ele alvo de um atentado por um cidadão de Ourém, chamado Zé Pinto, na travessa Lauro Sodré, entre o prédio da Cooperativa agrícola e residência dos padres. Sua segurança que tinha entre eles o famoso Lavareda e o oficial Seabra, teria reagido com rajadas de metralhadora e atingido o suposto atirador na região glútea. Os relatos são divergentes e alguns dizem que Zé Pinto não usou arma de fogo e sim fogos de artifício. O certo é que Barata nunca foi Kennedy e muito menos Zé Pinto chegou perto de ser um Lee Oswald.

segunda-feira, 28 de março de 2011

O boi zebu e as formigas - Patativa do Assaré


O boi zebu e as formigas

Um boi zebu certa vez
Moiadinho de suó,
Querem saber o que ele fez
Temendo o calor do só
Entendeu de demorá
E uns minuto cuchilá
Na sombra de um juazêro
Que havia dentro da mata
E firmou as quatro pata
Em riba de um formiguêro.

Já se sabe que a formiga
Cumpre a sua obrigação,
Uma com outra não briga
Veve em perfeita união
Paciente trabaiando
Suas foia carregando
Um grande inzempro revela
Naquele seu vai e vem
E não mexe com mais ninguém
Se ninguém mexe com ela.

Por isso com a chegada
Daquele grande animá
Todas ficaro zangada,
Começou a se açanhá
E foro se reunindo
Nas pernas do boi subindo,
Constantemente a subi,
Mas tão devagá andava
Que no começo não dava
Pra de nada senti.

Mas porém como a formiga
Em todo canto se soca,
Dos casco até a barriga
Começou a frivioca
E no corpo se espaiado
O zebu foi se zangando
E os cascos no chão batia
Ma porém não miorava,
Quanto mais coice ele dava
Mais formiga aparecia.

Com essa formigaria
Tudo picando sem dó,
O lombo do boi ardia
Mais do que na luz do só
E ele zangado as patada,
Mais força incorporava,
O zebu não tava bem,
Quando ele matava cem,
Chegava mais de quinhenta.

Com a feição de guerrêra
Uma formiga animada
Gritou para as companhêra:
Vamo minhas camarada
Acaba com os capricho
Deste ignorante bicho
Com a nossa força comum
Defendendo o formiguêro
Nos somos muitos miêro
E este zebu é só um.

Tanta formiga chegou
Que a terra ali ficou cheia
Formiga de toda cô
Preta, amarela e vermêa
No boi zebu se espaiando
Cutucando e pinicando
Aqui e ali tinha um moio
E ele com grande fadiga
Pruquê já tinha formiga
Até por dentro dos óio.

Com o lombo todo ardendo
Daquele grande aperreio
zebu saiu correndo
Fungando e berrando feio
E as formiga inocente
Mostraro pra toda gente
Esta lição de morá
Contra a farta de respeito
Cada um tem seu direito
Até nas leis da natura.

As formiga a defendê
Sua casa, o formiguêro,
Botando o boi pra corrê
Da sombra do juazêro,
Mostraro nessa lição
Quanto pode a união;
Neste meu poema novo
O boi zebu qué dizê
Que é os mandão do podê,
E as formiga é o povo.


Do livro Ispinho e Fulô – Patativa do Assaré

quarta-feira, 23 de março de 2011

ANEDOTAS GUAMAUARAS

A BATALHA DO SOUZA

O município de Capitão Poço foi desmembrado de Ourém, partindo nosso município no meio, em 1961. O município novo fora criado por bravos nordestinos, arigós, que com muito entrega desenvolveram rapidamente sua cidade e ainda com sotaque nordestino sacaneavam os nativos de Ourém e uma grande rivalidade nasceu ali.

Nessa época não havia ponte sobre o rio Guamá para ligar os dois municípios e a travessia era feita numa balsa, puxada na corda. Os confrontos no futebol eram os melhores momentos para exercitar essa rivalidade.

Certa vez, no campo do Souza, local onde hoje está a Escola Padre Antonio Vieira, jogavam Atlântico de Ourém e Comercial de Capitão Poço e os “cabras-da-peste” começaram um porradal e os ouremenses foram recuando com a idéia de surpreender os poçenses na hora da balsa(travessia).

Estava tudo combinado, o caminhão pau-de-arara embarca na balsa cheio de "cabeça chata"(como eram chamados os nordestinos) e na hora que está no meio do rio , foi dada a ordem para atirarem as pedras, e Ronaldo, aquele do cineminha, conseguiu arremessar uma pedra enorme no meio dos embarcados, já era noite e um grito de dor ecoou rio abaixo e depois de acenderem as lanternas, estava estatelado no chão da balsa, todo ensangüentado, o balseiro seu Geraldo, o único de Ourém naquela travessia...

O HÍMEN DA CESTA

Corriam os anos 1990 e a rivalidade entre as duas cidades diminuía, mas Capitão Poço sempre mais próspero, construiu um ginásio com quadras polivalentes. Para sua inauguração e para selar a paz, os poçenses convidam para inaugurar a quadra de basquete, o bom time de Ourém. O basquetebol sempre foi um esporte conhecido por placares que se aproximam de 100 pontos para cada lado, mas naquele dia solene, e depois de dezenas e dezenas de tentativas, e após todos os tempos e paradas necessárias, o placar não saiu do zero. Isso mesmo! Uma partida de basquete empatada em zero para Capitão Poço e zero para Ourém. Foi uma desolação total no novo ginásio e a razão só foi explicada quando alguém subiu num cavalete, e colocou a bola no aro e ao notar que não passava, descobriu-se que aquela bola era maior que as cestas das duas tabelas... A rivalidade não tem mais vencedor hehehehe...

Arlindo Matos(23/03/2011)

terça-feira, 22 de março de 2011





“UMA OUSADIA COM FINAL FELIZ”

– Texto de Arlindo Matos para a “Folha de Ourém” – edição de 08/07/1.995, baseado em entrevistas feita com Antonio Albério e Albino Evangelista de Abreu.

“Um sonho impossível!” – diziam os mais incrédulos. Ironicamente os mais abastados daquela Ourém dos anos trinta, infestada por doenças tropicais, e diziam mais: “Será uma armadilha para matar os fiéis católicos. Nós não contribuiremos com essa loucura”.

Em 1.937, a deteriorada e centenária igreja de Ourém, construída em taipa, dava sinais de ruir. Já estavam na paróquia os padres Barnabitas, aqui liderados por padre Ângelo Moretti, que se entregou de corpo e alma à causa social e evangélica em favor de seus “macacos” do pequeno lugarejo.

A reforma da antiga igreja com a construção de uma torre, era inviável, em função da estrutura precária da mesma. Com os Barnabitas estava irmão Antonio Albério, um polivalente italiano, que dominava técnicas interessantes para a época, como: compositor e regente de banda musical, dominador de química para fabrico de remédios e bebidas, e um exímio curioso das artes arquitetônicas dentre outras.

Acionado por padre Ângelo Moretti, irmão Antonio Albério idealizou uma nova igreja em estilo gótico, que uma vez desenhada no papel, provocou a reprovação imediata das pessoas mais influentes da localidade, tudo porque se tratava de uma construção ousada para os olhos dos nativos, que não se conformavam que tamanho salão, prescindisse de colunas de sustentação na parte central do futuro templo de orações. Seria uma tragédia já na sua inauguração. Irmão Antonio recebeu muitas críticas: “louco”; “esbanjador do dinheiro do povo”; “desvairado”. O influente Amadeu Tavares foi mais direto com irmão Antonio: “Eu não dou um tostão pra essa droga de igreja”. Mas, padre Ângelo não se intimidou, e depois de escolher o local, no terreno do antigo cemitério cabano, já sem uso, e em frente da antiga igreja, com irmão Antonio relacionou o material necessário para o início da construção: cimento, areia e seixo para o fabrico de blocos. Areia e seixo do próprio Município, o cimento trazido de Belém, em barris através da embarcação “Rio Moju”, e irmão Antonio com suas próprias mãos, confeccionou 11.725 blocos de concreto, numa média de 40 a 50 por dia.

Com o boicote dos mais influentes e sem contar com qualquer ajuda da prelazia, da prefeitura ou do governo do Estado. Padre Ângelo iniciou uma campanha direcionada aos colonos, quando após as missas chamava-os um a um, dizendo. “Vem cá “macaco”. Quanto tu tens aí? Sobrou alguma coisa da tua feira? Então passa pra cá”. E metendo literalmente a mão no bolso de seus “macacos”, padre Moretti conseguiu recursos para construir sua obra faraônica. Em vinte de setembro de mil novecentos e trinta e oito, aconteceu solenemente o lançamento da pedra fundamental. Irmão Antonio durante o erguimento da parte de alvenaria, contou com a ajuda inseparável do mestre Albino Evangelista de Abreu e colaboração de seu Raimundo “Chiquedigue” que fazia a argamassa, e seu Clementino Siqueira que fazia o transporte da massa para o ponto de serviço. Vale ressaltar que a própria comunidade ajudou no transporte do material, como seixo, areia e cimento para o local da obra, sendo que as pedras para o alicerce foram trazidas de canoa pelo rio Guamá até o porto da cidade, e de lá, aos domingos após as missas, eram transportadas pelos próprios fiéis ao seu destino final. Por tal participação da comunidade, irmão Antonio Albério, considera a imponente igreja, patrimônio do povo de Ourém.

Uma vez levantada a igreja, já no ponto de receber o telhado, uma chuva torrencial alagou a construção a tal ponto, que em seu interior chegou a conter três palmos d’água, temporal este que caiu no início de uma tenebrosa noite. No dia seguinte irmão Albério foi ao local com sua equipe para fazer o escoamento da água, mas deparou com a igreja já esvaziada. Então foi feita uma análise para verificar por onde toda aquela água havia se esvaído, e no alicerce foram encontradas diversas rachaduras, provocadas pela existência em seu subsolo de ossadas humanas do antigo cemitério supostamente cabano, rachaduras essas que receberam devidamente injeções de concreto. Porém, uma rachadura na base da torre, cuja brecha entrava uma folha de papel, mereceu maior atenção de irmão Albério, motivando-o a consultar em Belém, o engenheiro Cláudio Chaves, que o recomendou a cavar às proximidades dos quatro lados da base da torre, onde no lado esquerdo de quem está de frente para a igreja, foi descoberta uma bruta sepultura cabana, cuja ossada foi devidamente removida, sendo preenchido o local com concreto para depois se fazer duas espias de sustentação da torre, para que no futuro esta não viesse a ruir.

Alvenaria concluída, irmão Antonio Albério muda sua equipe para carpintaria e marcenaria, e sob sua orientação passam a trabalhar com ele, mestre Basílio e mestre Thomaz Rodrigues, que fizeram a cobertura e também portas, janelas e bancos, cabendo a mestre Basílio a feitura da escada em caracol, que leva até boa parte internamente da torre, no local destinado ao coro.

Assim foi construída essa belíssima igreja, que teve seu piso todo revestido em mosaico, com imagens de santo e sino removidos da antiga igreja. Quanto a torre, esta foi projetada para atingir a altura de vinte e dois metros. Irmão Albério não soube precisar se seu intento foi atingido, mas disse que quando estava afixando a cruz, no topo da torre, ouviu um grito que vinha de baixo. Observou, e reconheceu a figura do polêmico Amadeu Tavares, que bradou: “Irmão Albério! Trago aqui uma garrafa de champanhe pro senhor espatifar aí em cima, e aqui estão duas arrobas de tabaco para leiloar e repor tudo que eu deixei de contribuir. Agora dou minha mão à palmatória”.

...E em cinco de julho de mil novecentos e trinta e nove, com a presença de vários convidados, dentre eles os padres de Belém, Pe. Afonso e Pe. Dubois é inaugurada com muito orgulho, a Igreja Matriz de Ourém, que soberana se destacava em meio às casas humildes de um pequeno povoado, em que ruas eram caminhos e picadas, mas que hoje se adapta ainda com larga vantagem ao progresso em seu redor. Padre Ângelo Moretti, irmão Antonio Albério, seu Albino, Raimundo “Chiquedigue”, Clementino, mestre Thomaz, mestre Basílio, Amadeu Tavares e todos os “macacos” eram um só sorriso e Ourém passou a ser mais feliz.

domingo, 20 de março de 2011

O Diabo de Ourém


Alguém Já ouviu falar no Diabo de Ourém? Na verdade é uma história de 150 anos atrás. Tudo verdade e estudado:No quatriênio 1.857-1.860, foram empossados para governar Ourém, os vereadores: Antonio Fernandes Ribeiro, João Lopes da Cunha, Antonio Roiz Chaves, Joaquim José Lopes, José da Silva e Souza, Martinho dos Santos Martyres, e Clarindo Roiz da Silva, como suplente. Foi nesse período de governo que a personagem Santa Maria Martyr, incorporada pela escrava Martinha, pertencente ao casal de Antonio José de Souza. Segundo relatos da época, não passou de uma farsa, mas foi suficiente para desassossegar a vila e merecer intervenção da polícia da Capital.

Teria ela, a escrava Martinha, ou Santa Maria Martyr, a ajuda do aventureiro português conhecido por Elias, que desempenhava o papel do Diabo, sendo apelidado de Diabo de Ourém, nesse episódio teatral.
Depois de se instalar na igreja matriz, passou a predizer o futuro, a fazer “milagres”, receber espíritos, exigir preces, arrastada pelo “Diabo” influenciando o povo à cometer extravagâncias, dominando as autoridades, exumando mortos, controlando até a entrada e saída da vila.
Entre outras coisas do gênero, o “Diabo” convenceu o povo de que estava mesmo possuído, sofrendo opressões demoníacas e a “santa” mandou açoitar com varas de São Tomé, o cadáver de uma tal Maria do Nascimento, com a finalidade de sua alma chegar no Céu.
Foi preciso a intervenção enérgica do chefe de polícia, Dr. Olyntho José Meira, que motivado pela vinda da Capital, do padre Ismael Manito, prendendo a “santa” e chamando à ordem os fanáticos.
Consta ainda sobre esses fatos, estudos da professora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo (USP), que revelam a existência de processos de exorcismo incriminando o padre José Maria Fernandes, vigário de Ourém na época.
A história conta que o padre José Maria Fernandes, pretendia salvar a escrava Martinha, que estaria possuída pelo demônio. Insuflados pelo vigário, cerca de dois mil fiéis lotavam diariamente a paróquia de Ourém, para orarem na intenção de afastar o diabo da escrava. No processo, Martinha foi convocada à depor, e disse que “sentia o corpo queimar”, e que estava “sendo devorada pelo fogo”.
Habitantes de Ourém da época descreveram nos processos, que o diabo era “de cor preta e cheiro de enxofre” tendo “aspecto hediondo e se exprime em grego e latim”. E movidos pelo medo aos feitiços, grupos de fiéis chegaram a organizar procissões noturnas aos cemitérios, onde abriam os caixões e oravam pelas almas dos mortos. (Arlindo Matos-Oureana de Além-Mar, Ourém terra de Moura 02/07/2007)

Quintino, o "Gatilheiro"


Na carteira de identidade apresentada na justiça, constava o nome Armando Oliveira da Silva, mas era mesmo conhecido por Quintino, talvez seu verdadeiro nome, que completo seria Quintino da Silva Lira, que se auto-intitulou o “Gatilheiro”.

A saga de Quintino é digna de virar roteiro de cinema e jamais poderia deixar de ser citada e até merecer um capítulo especial na memória de um dos diversos municípios do nordeste paraense, onde reinou nas selvas desde 1981 até ser morto pela polícia militar do Estado Pará, na data de 04/01/1985.

Teria ele nascido no Município de Bragança, sendo filho de Domingos da Silva Lira e de dona Raimunda da Silva Lira, vivido a infância na localidade Jussaral, em Viseu e dentro ainda desse Município, passou pelas localidades de São José do Piriá e Baixinhos, às margens do rio Gurupi, onde se separou de sua primeira mulher e prima de nome Helena, com quem deixou três filhos, um menino e duas meninas, indo para Primavera, fixando-se depois na localidade de “Pau-de-Remo”, então Município de Ourém, local onde iniciou sua carreira de “justiceiro” marcando suas trilhas em densa mata, com um rastro de sangue que só acabou quando tombou morto a oito quilômetros da Vila Nova Piquiá, solo de Viseu, com um único tiro mortal no peito, em cima do coração, supostamente de fuzil.

Do personagem que viveu ao lado de seu bando, inicialmente composto por “Coruja”, “Mão de Sola”, “Portinho” e “Cabralzinho” e que chegou a ter sob seu comando mais de quarenta homens, e se fosse preciso, segundo o próprio, reuniria até trezentos simpatizantes pela sua causa, podemos dizer que lembrava um pouco “Lampião” e seu cangaço pela postura exibicionista e armamento à base de rifles-44, cartucheiras e revólveres de diversos calibres. Era vaidoso em seu visual, cuidando bem do bigode e unhas, vestindo-se de acordo com a ocasião, camisas de tecido com botões e botas de vaqueiros ou camisetas esportivas de algodão com calças jeans e sandálias havayanas, sempre com um inseparável chapéu de massa escuro com abas e cordão que às vezes prendia ao queixo. Quintino que entre outras ousadias chegou até a distribuir terras para os colonos, que eram medidas pelo topógrafo do bando chamado Silvestre, morto em Capitão Poço, perdeu também sua companheira de nome Maria Antonia da Silva e outros comparsas em vários confrontos com a polícia, sendo “Cabralzinho” o primeiro a tombar morto no início dos conflitos. Da primeira formação de seu bando, “Mão de Sola” ainda estava com ele no final e “Bodão”, que entrou depois era outro de sua confiança que sempre lhe acompanhava nos momentos difíceis. Quintino matou ou mandou matar muitos, principalmente fazendeiros e policiais em missões. Sempre se gabava que tinha melhor índole que o lendário “Lampião”, pois jamais matava criança ou colono: “Só mato gente rica”, sentenciava.

No dia de sua morte, estava desacompanhado de seus capangas tomando um mingau na casa de seu Florismar, velho amigo que era conhecido na Vila Nova Piquiá, por seu “Flor”. “Mão de Sola” e “Bodão” ficaram na vila. Ainda faltavam alguns minutos para as dezenove horas daquela chuvosa noite de 04/01/1985, quando avisado por um policial que já estava no interior da casa de que estava cercado pela polícia, em ato-contínuo teria se levantado do tamborete em que se encontrava sentado, pegado seu revólver em cima de um guarda-roupa que estava atrás de si na cozinha e dito suas últimas palavras aos amigos da casa: “não sai ninguém, que eu vou morrer sozinho”. Saiu pela porta dos fundos e então se ouviu mais de duzentos tiros por aproximadamente cinco minutos. Só um o atingiu, aquele tiro, supostamente de fuzil, que explodiu seu coração.

Quintino virou mito e em crônica contaremos agora o resumo de seu reinado de “Gatilheiro”:

Quintino da Silva Lira ou Armando Oliveira da Silva eram o mesmo homem e até o início dos anos 1980 não passava de um simples agricultor na localidade de Pau-de-Remo, então Município de Ourém. Porém, a situação imposta pelos sistemas de governo apresentadas no Brasil, com injustiças sociais aflorando por toda parte, fez aquele pacato colono tornar-se um dos mais temidos fora-da-lei do norte do país.

As injustiças na distribuição de terras geraram conflitos ao ponto de Quintino perder companheiros de forma covarde, motivando-o a arregaçar as mangas e tomar uma brava atitude de liderar um grupo de colonos rebelados contra o injusto sistema, indo literalmente a luta com armas nas mãos.

Quintino que foi comparado à Robin Hood, Zumbi, Antonio Conselheiro e “Lampião” desta nova era, quis evitar tais comparações, se auto-intitulando de “Gatilheiro”, uma nova expressão para um novo herói do campo.

Ele na verdade teria matado, revidado, roubado e chantageado, porém não como sua fama mostrou. Sempre houve exageros, e também é verdade que se criou o mito de que ele teria parte com o diabo, usando técnicas que lhe permitiam desaparecer aos olhos de seus perseguidores, como se transformando num toco, cão ou outro animal qualquer. Na verdade, Quintino não virava nada e sim sabia se virar nas adversidades com muita sabedoria, mostrando-se um excelente líder estrategista. Era muito bem informado de todos os passos da polícia e de qualquer outro perseguidor.

O que ele fez podia até não estar certo, porém mesmo inconscientemente, Quintino conseguiu coisas que nossos governos e nossa justiça nunca ousariam solucionar, como por exemplo, a reforma agrária.

Mesmo procurado nos quatro cantos pelas tropas do coronel PM Cleto, comandante das tropas na região, que se embrenharam nas matas tendo a frente o capitão PM Cordovil, época em que era governador do Estado do Pará, Jader Fontenelle Barbalho, Quintino desapropriou terras, assentou “sem-terras”, resolveu conflitos como se fora um Juiz de Paz e até casamentos realizou, causando temor e admiração ao mesmo tempo.

Quem o conheceu na intimidade impressionou-se com aquele mortal, dotado de uma obstinação invejável, em busca de um ideal comum com sua gente: a justiça propriamente dita.

Foram aproximadamente quatro anos de reinado em mata fechada, período-referência em que muitas autoridades nada fazem para atenuar o sofrimento do povo do campo, e mesmo assim relacionava-se com as mesmas, com fazendeiros e comerciantes na medida em que a regra era ditada. Quem veio para conversar, teve conversa. Quem foi para guerrear, teve guerra. Quem se chegou para traí-lo, conseguiu, pois o “Gatilheiro” era também um poço de ingenuidade, e tombou para sempre no ritmo do pipocar das armas da polícia militar.

Quintino foi e sempre será o que as pessoas quiserem dele achar, pois de tudo tinha um pouco, e pode ter sido um herói, bandoleiro, justiceiro, cangaceiro, gatilheiro, Robin Hood, Zumbi, Antonio Conselheiro, “Lampião”, um toco ou um cão, o diabo... Dependendo do ângulo ou dimensão que se queira dar ao seu papel na história, porém uma coisa deve ser dita sem pestanejar: Quintino foi uma das figuras mais importante neste final de século e milênio, trazendo para discussão assuntos e temas outrora esquecidos ou engavetados pelas autoridades. Descansa em paz, “Gatilheiro! (crônica de Arlindo Matos, escrita em setembro de 1997 para o jornal “Informativo Popular” de Capitão Poço, e que por tanto sucesso foi repetida no jornal “Folha do Gurupi”, de Viseu, em novembro do mesmo ano).

(Arlindo Matos – Oureana de Além-mar, Ourém terra de Moura-02/07/2007)

sábado, 19 de março de 2011

SOCIEDADE ALTERNATIVA


Um dia o maluco-beleza Raul Seixas, disse: “Viva a Sociedade Alternativa”. A liberdade pregada pelo polêmico roqueiro pode ter sido entendida como anarquia, mas para quem se debruça sobre o tema e estuda o alternativo como filosofia de vida ou de arte, acaba compreendendo melhor Eduardo Angelin, Antonio Conselheiro, Chico Mendes e Quintino, todos pregadores de alternativas interessantes e viáveis para o mundo.

Hoje no mundo, a força do alternativo é patente e está sendo usada para boas e más causas. Como ignorar a pirataria? Que tenta de todas as maneiras burlar a lei dos homens para nos dar uma lição: A carga tributária é absurda, e já não sabemos mais qual é o certo. Se consumir, por exemplo, a perene criação artística que permeia em CDs e DVDs clandestinos; ou se tentamos prestigiar o autor pagando caro um produto, cuja arrecadação, duvidamos que chegue com justiça às suas mãos. A rapinagem institucional é outro motivo de busca do alternativo. Afinal, nos perguntamos: Qual colesterol devemos ter? O bom? Ou o mal? E qual é o mal? E qual é o bem? Então o alternativo se apresenta para aumentar nossas opções.

É... bebida é água... comida é pasto... você tem sede de quê?... você tem fome de quê?... acho que tou querendo um norte, talvez pegar um Ita no norte, tomar banho de chapéu, discutir Carlos Gardel, esperar papai Noel... então vá. Faz o que tu queres pois é tudo da lei... da lei.

Assim... pelo sim e pelo não, temos que fazer alguma coisa. Dar vazão a nossa criação. Experimentar o alternativo e chutar o modismo como regra obrigatória.

A oportunidade haverá de surgir, principalmente para a juventude que caminha a esmo. Hão de aparecer espaços pra você, idealista, visionário, operário da cultura.

Precisamos romper os vidros da redoma que nos impede de botar os pés nos palácios, nos castelos suntuosos dos meus sonhos, que não são sonhos vãos, quimera ou utopia. Quem dera fora a realidade de poder fluir como o sangue de minhas veias e brilhar saltitante sem o visgo da teia.

Raulzito! Acho que você sempre teve razão... a ficha caiu!

(Arlindo Matos – 17/10/2007)